CHICKEN COOP, SERRALVES FOUNDATION
Porto, Portugal 
2024




[PT]
Da necessidade inusitada de criar um abrigo para galinhas na Quinta Pedagógica de Serralves procurou-se a radicalidade no desenho dos elementos mínimos.
A implantação rouba-se ao pragmatismo do edifícios agrícolas existentes, que já tinham encontrado a melhor orientação solar.
Sem artifício, a composição que dá forma ao galinheiro e a sua estrutura de suporte são um exercício de síntese e métrica ditada pelas regras tectónicas do material e pelo controlo da escala da intervenção.
A peça é assim constituida por dois módulos simétricos que pousam em seis blocos de granito assumindo a sua leveza e efemeridade e por uma cobertura de duas águas em zinco que se projecta afirmativamente para fora dos limites do galinheiro. Por fim a cor - elemento essencial na composição, distingue os elementos e sugere um diálogo com as restantes construções existentes.



Technical Information
Architecture: depA Architects
Construction: Carmo Estruturas em Madeira
Photography: José Campos and Federico Farinatti
Commission: Serralves Foundation







EDUCATIONAL PAVILION, SERRALVES FOUNDATION
Porto, Portugal 
2024




[PT]
A antiga Quinta do Mata-Sete localizada no extremo sudoeste do Parque de Serralves funciona hoje como quinta pedagógica da Fundação. Com uma lógica pragmática ditada pela função agrícola distingue-se do desenho geometrizado de influência francesa do restante parque. Este projecto, surgido da necessidade de criação de um espaço multifuncional dedicado a actividades pedagógicas da Quinta localiza-se num ponto de charneira destas duas realidades.

Procurando uma transformação mais perene do território, recorreu-se ao léxico de materiais que já caracterizam o parque e a sua humanização, propõe-se uma intervenção em dois gestos de transformação elementares: com um conjunto de grandes blocos de granito desenha-se um muro de baixa altura que pela sua geometria e relação com o terreno permite a criação de um espaço naturalmente abrigado e confinado num gesto mais telúrico do que arquitectónico, aludindo às formas de transformação do território mais rudimentares como os campos masseira do norte litoral de Portugal. Sobre este muro surge uma cobertura de madeira que, soltando-se do plano do terreno acaba de conter o espaço e desenha uma área de estufa fechada.

A presença da construção resulta serena na relação longínqua com o parque, e dominadora na relação mais próxima que estabelece com a horta produtiva para onde se abre. A adaptabilidade da intervenção ao longo do tempo foi uma das premissas do projecto. Se a cobertura, de materialidade mais efémera, desaparecer, ficarão apenas muros de configuração do terreno como parte integrante do vasto parque. Com esta intervenção pretende-se que seja ampliado e reforçado o carácter lúdico e instrutivo da horta, informando o público acerca da “natureza” da paisagem, enquanto coisa inevitavelmente construída.


Technical Information
Architecture: depA Architects
MEP: Valeng
Construction: C armo Estruturas em Madeira
Photography: José Campos and Francisco Ascensão
Commission: Serralves Foundation






HOUSE IN ESPINHO
Espinho, Portugal
2024




[PT]
Uma peça de betão preenche a casa pelo seu interior, encaixando-se dentro das paredes das antigas fachadas. Num gesto só, procura resolver o aumento e relações da volumetria da cobertura, o ambiente identitário, háptico, do interior, a comunicação espacial desde o último piso até ao logradouro e a relação de toda a casa com este espaço exterior. Resolve ainda de forma clara a relação, sempre difícil, ora de aproximação ora de distanciamento, entre os elementos pré-existentes e os novos.

Todo o espaço, toda a casa, vai atrás do gesto deste corpo duro. A partir da entrada, num momento marcado pelo pé-direito comprimido, estabelece relação franca com o logradouro num movimento muito horizontalizado e, num outro mais vertical, com o núcleo das escadas, um vazio que une todos os pisos e todos os seus espaços. No conjunto desses espaços aparentemente pequenos e rígidos, próprios de uma casa desta escala, integram-se quatro espaços propositadamente grandes e de programa flexível, à medida dos dias de hoje: uma cozinha maior do que a sala, um espaço polivalente sem programa definido, uma plataforma exterior à espera de ser reinventada e um jardim que poderá tudo ser mas que, só por ali estar, povoa o interior da casa através dos janelões a sul.

À dureza do betão, que resolve todo o espaço, associa-se a madeira, que devolve a temperatura própria do habitar. Em conjunto desenham um “ser e estar sobre a terra”, no espírito do velho texto de Heidegger. O tempo flui, tal como os discursos, mas hoje, como sempre, construindo e habitando, ou vice-versa, somos sempre, somos simplesmente.



Technical information
Architecture: depA architects
MEP: AS Engenharia e Arquitectura, Adesus
Contractor: F.A. & V. Araújo Construções
Photography: Frederico Martinho





Abrigo dos Pequeninos Municipal Archive
Porto, Portugal 
2024





[PT]
O Abrigo dos Pequeninos foi projectado por Rogério de Azevedo em 1933 e construído em 1935 no miolo da Praça da Alegria, no Porto, para funcionar como creche e dispensário. A concepção do edifício original hesita entre os princípios funcionalistas que caracterizavam a arquitectura de vanguarda do início do séc. XX, e as regras de composição clássica que se regem por eixos de simetria. Assim, para o passeio das Fontainhas, o edifício mostra uma fachada imponente e simétrica que dialoga com as escadarias laterais que ligam as duas plataformas e de onde se lança o eixo que organiza o programa interior. A contrariar esta simetria apareciam, a Nascente, uma pérgola sobre um pátio exterior que marcava o espaço de recepção do edifício e, a Norte, uma sala que se implantava deslocada em relação ao referido eixo.

Em 2018, quando iniciámos o projecto, o edifício estava abandonado e a composição original encontrava-se alterada. Da leitura do conjunto existente e em relação ao projecto original de Rogério de Azevedo, eram notórias várias intervenções de adaptação do edifício e do seu espaço exterior, resultando numa série de elementos dissonantes, mas também caracterizadores da sua contemporaneidade.

A proposta nasceu da necessária compatibilização de três tempos: o projecto original de Rogério de Azevedo, as transformações que o edifício foi consentindo e a sua adequação ao novo uso pretendido. Para tal entendeu-se que a necessária clarificação dos elementos originais não era incompatível com a manutenção de elementos que ampliavam o volume edificado e que beneficiam a implementação do novo e exigente programa das Reservas Municipais.

Assim, propôs-se o redesenho das ampliações entretanto efectuadas a Nascente, Poente e Norte, através de um sistema austero, que partiu da repetição de módulos porticados. Esses novos elementos vieram criar o equivalente a 3 naves que aparecem paralelas ao eixo do edifício. Esse mesmo sistema de pórticos redesenhou a entrada axial a Norte através de uma cobertura exterior que reforça o eixo e cria uma varanda/terraço ao nível do primeiro piso.

A distribuição do programa procura tirar partido da configuração do edifício, evitando transformar a sua matriz compositiva. É feito um exercício de “limpeza” em que se eliminam as pequenas compartimentações que o edifício foi acomodando ao longo de 80 anos de utilização. Criam-se assim grandes salas capazes de acondicionar os sistemas de arquivo próprios de um edifício de Reservas.

Os novos elementos procuram na sua materialização equivaler-se às pesadas paredes de pedra que definem a estrutura do edifício e ao mesmo tempo a matriz do seu programa. Acredita-se que, dentro desta estratégia, o edifício se deixa aberto a novas interpretações, ampliando a probabilidade de vir a sobreviver para além do tempo deste novo uso.



Technical Information
Architecture: depA Architects
MEP: Ncrep
Construction: C armo Estruturas em Madeira
Photography: Francisco Ascensão
Commission: Câmara Municipal do Porto





NA TRAVESSA
Porto, Portugal
2021




[EN]
The alignment of the enclosed spaces on the ground floor is given by the extension in an annex volume existing in the patio and marked by a large pre-existing woode
n beam, re-located and integrated in the current composition. The remaining space is open space and divided into two distinct areas, a reception area, next to the entrance, and a breakfast area to the rear. The stone portal existing on the ground floor on the rear elevation was kept as a framework to connect the main body to the patio. The existing annex, connected to the main body on the ground floor, now integrates a winter garden that extends the social areas of the building and expands its relationship with the living space/garden created in the patio. On the upper floors there are 8 double rooms in groups of 2, all of them similar and with private bathrooms, each group facing one of the elevations.

Due to the impossibility of maintaining the existing rear elevation on these floors, it was rebuilt maintaining the characteristic compositional logic of the historical buildings, both in the proportion of the spans beyond which new balconies are supported, and in the material definition of the façade with mimetic marking in different textures of the finish of a stonework that clings to the metal guarding element. Constructively, the building finds a harmony between the use of traditional materials and pre-existing elements such as wood and stone, with contemporary construction methods. Some materials and elements of interest were reused after the demolition as part of the new composition, such as the large wooden beams on the ground floor or the arrangement of the outdoor spaces.

The floor slabs are new, although they are a reinterpretation of the traditional floor slabs typical of 18th and 19th century bourgeois construction of Porto. Thus, they are composed of a new wooden beam linked to a concrete slab on which new layers are added to guarantee the regulatory safety and acoustic requirements.
The roof and skylight structure, rebuilt using a wooden structure according to traditional techniques, are left bare on the top floor, thus enhancing the interior space.
Simultaneously, the spaciousness of the ground floor is emphasized with a continuous concrete floor that emerges as both the start of the staircase and the lintel supporting the wooden pillars on the ground floor. The existing textures were the starting point for the creation of the new atmosphere: these now appear in the traditional masses that shape the stone walls of the common areas, as well as in the bush-hammered concrete that continues the texture of the granite of the outer walls of the rear elevation.

Technical information
Architecture: depA architects
MEP: Armanda Santos, Vitor Andrade, Adesus Lda
Contractor: Multiformas Construções, Lda
Photography: José Campos