ABRIGO DOS PEQUENINOS MUNICIPAL ARCHIVE
Porto, Portugal
2024


O Abrigo dos Pequeninos foi projectado por Rogério de Azevedo em 1933 e construído em 1935 no miolo da Praça da Alegria, no Porto, para funcionar como creche e dispensário. A concepção do edifício original hesita entre os princípios funcionalistas que caracterizavam a arquitectura de vanguarda do início do séc. XX, e as regras de composição clássica que se regem por eixos de simetria. Assim, para o passeio das Fontainhas, o edifício mostra uma fachada imponente e simétrica que dialoga com as escadarias laterais que ligam as duas plataformas e de onde se lança o eixo que organiza o programa interior. A contrariar esta simetria apareciam, a Nascente, uma pérgola sobre um pátio exterior que marcava o espaço de recepção do edifício e, a Norte, uma sala que se implantava deslocada em relação ao referido eixo.

Em 2018, quando iniciámos o projecto, o edifício estava abandonado e a composição original encontrava-se alterada. Da leitura do conjunto existente e em relação ao projecto original de Rogério de Azevedo, eram notórias várias intervenções de adaptação do edifício e do seu espaço exterior, resultando numa série de elementos dissonantes, mas também caracterizadores da sua contemporaneidade.

A proposta nasceu da necessária compatibilização de três tempos: o projecto original de Rogério de Azevedo, as transformações que o edifício foi consentindo e a sua adequação ao novo uso pretendido. Para tal entendeu-se que a necessária clarificação dos elementos originais não era incompatível com a manutenção de elementos que ampliavam o volume edificado e que beneficiam a implementação do novo e exigente programa das Reservas Municipais.

Assim, propôs-se o redesenho das ampliações entretanto efectuadas a Nascente, Poente e Norte, através de um sistema austero, que partiu da repetição de módulos porticados. Esses novos elementos vieram criar o equivalente a 3 naves que aparecem paralelas ao eixo do edifício. Esse mesmo sistema de pórticos redesenhou a entrada axial a Norte através de uma cobertura exterior que reforça o eixo e cria uma varanda/terraço ao nível do primeiro piso.

A distribuição do programa procura tirar partido da configuração do edifício, evitando transformar a sua matriz compositiva. É feito um exercício de “limpeza” em que se eliminam as pequenas compartimentações que o edifício foi acomodando ao longo de 80 anos de utilização. Criam-se assim grandes salas capazes de acondicionar os sistemas de arquivo próprios de um edifício de Reservas.

Os novos elementos procuram na sua materialização equivaler-se às pesadas paredes de pedra que definem a estrutura do edifício e ao mesmo tempo a matriz do seu programa. Acredita-se que, dentro desta estratégia, o edifício se deixa aberto a novas interpretações, ampliando a probabilidade de vir a sobreviver para além do tempo deste novo uso.

Technical Information
Architecture: depA Architects
MEP: Ncrep
Photography: Francisco Ascensão
Commission: Câmara Municipal do Porto